Psicanálise e Cinema - Cisne Negro



Dentre tantos filmes lançados todos os anos pela dramaturgia internacional, temos alguns longas que nos permitem fazermos associações dentro do campo Psicanalítico. Cisne Negro é um deles. Um filme emocionante e que nos remete a estrutura da Psicose. Vamos discutir um pouco sobre ele?



Nesta atividade trarei um pouco do filme Cisne Negro, um longa que nos traz grandes impactos sobre a Psicose, estrutura tão trabalhada por Freud e Lacan. Nossa ideia aqui é partir da concepção de sujeito do inconsciente, do desejo, da falta e da linguagem para descrevermos um pouco os fatos. O filme tem como personagem principal Nina, uma bailarina da companhia de Nova York, que não faz outra coisa na vida se não dançar. A mesma mora com a mãe, uma bailarina aposentada que investe tudo que tem na profissão da filha. Desde o início do filme, fica evidente a grande dedicação de ambas, para que Nina atinja a perfeição no ballet. Quando falamos desta busca da perfeição, estamos tratando de um desejo materno que é imposto a filha. Para a teoria psicanalítica isto significa que Nina tem seu lugar determinado como objeto amoroso da mãe, para que a mesma se defenda da castração.
Tentando tornar mais clara minha explicação, pensemos que quando a criança chega ao círculo familiar, ela chora, e é a mãe que dirá, num primeiro dia, que a criança está com fome, no dia seguinte, que está passando mal, no outro lhe perguntará por que chora. No quarto lhe dirá ainda outra coisa, e todas as palavras que forem ditas irão 'definir' essa criança; vão etiquetá-la, vão dizer o que ela é. Ou seja, lhe darão linguagem. Sempre costumo dizer que a criança é uma tela em branco e somos nós que colorimos. Retomando, tal exemplo consegue mostrar a função crucial desta linguagem, destes significantes maternos para a constituição subjetiva da criança. É a mãe que ocupa o lugar de primeiro outro para o bebê, sendo o desejo dela a primeira referência para o sujeito. Essa proximidade se faz necessária e fundamental, mas é preciso também ultrapassá-la. Isso se dá pela intervenção do pai, enquanto representante da Lei.
                No caso da trama ocorre exatamente que não há uma intervenção de terceiro, e a relação mãe-filha se torna alienante. As cenas iniciais entre Nina e sua mãe nos permitem observar e comprovar isto, na maneira maciça que há investimento narcísico da mãe em si mesma, repassado a Nina não como um investimento em outro sujeito, mais sim como uma parte de si. Em outras palavras é como se ambas estivessem coladas, não cindidas. Além disso, não há menção clara a um pai. Todo o discurso nos traz uma impressão de que a única referência da existência da personagem é sua mãe. A questão do desencadeamento da psicose ocorre no momento em que, ao participar da disputa por ser a bailarina principal da companhia, consegue o papel. São varias as cenas de desencadeamento de alucinações que ocorrem após a abertura do surto. Um caminho marcado por alucinações, delírios, autoflagelação. Este é um preço que o psicótico paga em nome de uma defesa radical. 
            O final por muitos considerado trágico, para a psicanálise mostra uma saída possível que Nina encontrou, uma saída para seu conflito psicológico. Conflito esse desencadeado por uma relação de dependência entre Nina e a mãe. Quando a protagonista chega ao palco e vê sua mãe na plateia, se joga, pois a única saída para o cisne branco seria a morte. A morte do cisne representa a própria morte de Nina, que deixa como última fala “eu fui perfeita”. Esta fala representa bem todo o conflito existente, e a busca incessante pela perfeição ditada por sua mãe. Como na psicose dizemos que não há barreiras como no neurótico, o inconsciente funciona sem interditos do superego, sociais, por isso vale qualquer preço para se defender e sanar uma angústia. Até mesmo a morte.
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Referências Bibliográficas
FREUD, S. (1980).  Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranoia. Obras Completas. Edição StandardBrasileira. Vol. XII, p. 15-110. Rio de Janeiro: Editora Imago, 2006
LACAN, J. (2002). O Seminário, Livro 3: As psicoses (2a ed.). Rio de Janeiro: Zahar.

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